Mais distante da zona de rebaixamento mas sem ficar tão perto do bom futebol
Em primeiro lugar é preciso deixar claro que toda vitória do Flamengo é, por premissa, uma coisa boa. Basquete venceu com cesta contra de um time já rebaixado? É bom. Derrotou adversário no Sub-15 do handebol em partida cumprindo tabela? Bom também. Classificação da equipe de e-sports, ainda que a gente não entenda todas as luzes piscando na tela e sinta um pouco de dor de cabeça? Tem que comemorar. Uma criança com camisa do Flamengo venceu a olimpíada de matemática do colégio contra outra com camisa do Liverpool? Vitória em clássico, pode sim colocar o dedo na cara do pai da outra criança e falar que desempatamos o confronto direto.
Digo isso, é preciso reconhecer que existem vitórias mais e menos convincentes, apresentações mais e menos animadoras, noites em que os 3 pontos surgem com a sensação de orgulho de quem viu um grande time atuando e outras em que eles chegam com a sensação de alívio de um paciente desenganado pelos médicos sendo avisado pela enfermeira que finalmente vai poder ir pra casa após meses de agonia.
E a vitória de hoje, por 2x0 contra o Cuiabá, onde vimos um Flamengo extremamente confuso, desorganizado e triste vencer um adversário mais fragilizado que emocional de adolescente e masculinidade de homem que não usa desodorante se não tiver “for men” escrito na embalagem, é com certeza uma das que se encaixam com muito mais facilidade no segundo grupo que no primeiro.
Não que a equipe rubro-negra tenha obrigação de dar show em todas as partidas, claro. Estamos falando do Clube de Regatas do Flamengo e não dos Globetrotters do Harlem, então obviamente vamos ter altos e baixos, vamos ter picos e vales, algumas vitórias vão vir com show dentro de campo e delírio da torcida enquanto outras vão chegar na base da burocracia esportiva com o torcedor tão emocionado quanto uma pessoa que teve problemas com o Detran acompanhando a atuação de um despachante.
Ainda assim, não deixa de ser preocupante a dificuldade que o Flamengo vem, no ano de 2022, enfrentando para apresentar qualquer coisa remotamente semelhante ao que poderia ser considerado um bom futebol.
Seja pela confusão tática de uma equipe que parece não se encontrar em campo; seja pelas falhas individuais que continuam se repetindo e atingem até mesmo atletas normalmente confiáveis; seja pelo clima de desânimo coletivo que parece dominar a equipe, tornando o Flamengo a maior reunião de pessoas sem vida se movimentando por um gramado desde as cenas do plano espiritual na novela “A viagem”; a verdade é que estamos diante de um Flamengo que só consegue vencer quando confrontado com um adversário realmente muito fraco, e mesmo assim é incapaz de realizar a tarefa de maneira muito convincente.
Então ainda que a vitória evidentemente seja importante, ainda que o trabalho de Dorival Júnior evidentemente ainda esteja no começo e ainda que evidentemente o Flamengo não tenha a menor obrigação de se apresentar sempre de maneira brilhante, noites como a de hoje, em que o time de vermelho e preto saiu do estádio com os 3 pontos mas talvez não saísse com a aprovação num teste psicotécnico, criam a sensação de que a rodada pode ter sido de vitória, mas a temporada dificilmente vai ser de conquistas.
